quarta-feira, 23 de março de 2011

Raoni (HIGH PUBLIC).

Hoje a entrevista é com o grande Raoni (Mr. Ráuna's), Selectah do High Public e produtor de eventos,sempre presente nas festas de São Paulo e tem um grande conhecimento da cena Soundsystem Paulista.

Como anda a cena DUB/SOUNDSYSTEM em São Paulo?
Opa, primeiramente máximo respeito por poder contribuir aqui nesse inicio de blog, acho muito legal essa idéia, pois já foi cogitado em outros momentos e alguns outros tiveram vida curta (espero que esse prossiga).
Cara, esse ano estamos comemorando uma década. Se eu não me engano, a primeira equipe especializada em reggae, o Dubversão começou em 2001, foi e continua sendo uma grande influência pra muitas pessoas aqui. Comecei a frequentar o Susi in Dub em 2003, mas não entendia absolutamente nada, até porque era difícil conversar dentro do salão. Conforme as pessoas foram se trombando, pesquisando mais, graças à internet também, algumas pessoas começaram com seus projetos pessoais, entre eles posso citar: BoomshotSound, ZionBrothes, HailHim, Quilombo HiFi, SelectorsB.Side, Jurassic SS, Abracadub, Kultcha Sound, B12..
Com isso as pessoas começaram a escutar o som em outros locais, na reunião de amigos, festas menores e as sounds foram crescendo, sendo que hoje a galera ta se especializando mais e mais, onde posso citar o Leggo Violence, Africa Mãe do Leão..que são sounds relativamente novas, porém com muita qualidade e sistema  de som próprio.
Com esse “boom” de novas sounds surgindo, no qual eu me incluo (comecei em 2009), muita coisa legal anda acontecendo e outras não muito legais.
As coisas legais são: maior diversidade de som nas pistas, nas ruas, nas trocas de informações, mais público, mais gente produzindo festas, mais intercâmbio entre as sounds, mais gente vendendo e comprando discos, cortando dubplates e se arriscando nas produções.  Outra coisa legal é que a galera ta começando a se especializar nas seleções e nas propostas. Vivemos uma longa fase onde tinha apenas uma opção de festa e hoje temos várias para os mais variados gostos.
As coisas chatas são as pessoas oportunistas e fechadas no pensamento que só existe uma verdade.  Sim, devemos pensar além, mas se tratando de reggae, acho que devemos olhar para trás e ver como foi difícil para os caras na Jamaica conseguir preservar essa cultura, a cultura do vinil, do sound system, da festa feita pelas próprias mãos.
A cidade de São Paulo hoje, pelo o que eu acompanho possui diversas equipes, a maioria se conhece e está na ativa, algumas tocando quase toda semana, outras as vezes só. O público é misto, tem gente de vários tipos, de diversas “escolas” colando e curtindo. Tem festa quase todo dia, mas festa boa esta difícil, pois acredito que quem faz a festa é o DJ e não o MC, ou seja, não adianta ter uma festa com 20 MC’s e não ter um DJ bom.
Há poucas festas com participações de artistas internacionais, da para contar no dedo as memoráveis festas que rolaram, entre elas destaco todas as produzidas pelo Dubversão e Jurassic SS.

O Brasil atualmente tem recebido grandes nomes da cena internacional como o grande JAH SHAKA, dentre outros que virão em 2011 como Iration Steppas, AbaShanti I, como você vê essa evolução da cultura Soundsystem aqui no país?
Então, como eu estava falando, há uma carência de bons artistas de fora se apresentarem nas festas aqui, talvez pela dificuldade de se produzir, ou falta de verba. Para mim a vinda do Shaka foi um divisor de águas, pois a figura dele representa muito para a cultura sound system, talvez para a galera que não se liga nisso nem tenha sido muito foda, mas pra mim e para todos que o conhecem foi um dos grandes eventos da década (ou da vida!!!)
Para esses caras chegarem aqui é no mínimo porque tem muita gente trabalhando por trás, não só dando a cara a tapa, mas investindo do próprio bolso e acreditando em algo maior, muito mais do fazer o nome é um grande presente para todos que gostam da cultura.
Outros grandes nomes já passaram por aqui, U Roy, Ranking Joe, ZionTrain, Welton Irie, Eek a Mouse, Mad Professor, Brother Culture. Todos eles se apresentaram no formato de festa que nós gostamos e é isso que queremos dar continuidade, gostamos de sound system, de artista próximo do publico, de uma parada mais humana e sem estrelismo.
Creio que os próximos anos serão melhores, cada vez melhor!
*Me parece que o Aba Shanti I não é uma certeza, mas sei que vira muita gente boa, entre eles o Jackie Bernard, lenda ainda viva, que vira dia 02 de Abril para cantar na Jamboree.

Como foi citado, o Iration Steppas se apresenta em São Paulo dia 01 de maio, e você faz parte da organização desse evento, fale um pouco sobre a expectativa de promover essa festa que será marcante para os amantes do Stepper no Brasil.
Bom, a idéia de trazer o Iration Steppas veio depois que o MPC (Digitaldubs) confirmou a vinda deles para o Brasil. Não poderia deixar essa oportunidade passar em branco ainda mais que os caras estão comemorando 20 anos de estrada. A produção é totalmente independente e contamos com o apoio dos amigos para fazer esse evento virar, pois queremos trazer mais nomes de peso, pra galera ver que o reggae é infinito e vai além da Jamaica e de tudo o que você possa imaginar. Falando em “steppers” creio que seja uma das vertentes do reggae menos conhecidas aqui, talvez pelo preconceito que muitas pessoas têm com os sons mais rápidos, mais digitais/eletrônicos.  As esperanças voltaram depois que eu vi o Jah Shaka tocando e cantando, sons massivos, que deixaram os regueiros de cabelo em pé com tamanho poder dele e da música que ele apresentava.
Creio que para muitos conservadores, o Iration Steppas não é legal, pois não tocam com vinil, tocam um som muito futurístico ou tenham uma postura muito pra cima contrariando o momento “celebration”, mas isso eles já enfrentaram há 20 anos atrás quando surgiram, e se eles são um dos sounds mais respeitados da UK, quem somos nós para criticar? Rs
VAI SER FODA!

Fale um pouco sobre o High Public e como se iniciaram as atividades desse coletivo?
A High Public não tem nem um ano, eu me juntei com o Julião (selectah do Quilombo Hi Fi) e com meu parceiro de longa data, Hatto, para tocar numa festa e fluiu legal.  A nossa proposta inicial era tocar tunes que não tocávamos sempre, sons mais pra cima, bem graves, produções desconhecidas, com ênfase em stepper/dusbtep. Mas é difícil só tocar isso, somos grandes fãs de roots, digital, então juntamos tudo pra engrossar o caldo. O Jr. Toaster entrou pra equipe logo em seguida, precisávamos de alguém que cantasse e ele tem uma pegada mais rub a dub, canta num inglês legal e conhece bastante de som, é seletor também, produtor musical, produz os nossos riddins e ainda sempre que rola, canta em outras festas.
O que você mais toca nas suas seleções? Qual estilo mais se destaca no seu gosto?
Putz, difícil hein! Quando eu tenho mais tempo pra tocar, gosto de começar com instrumentais, versões pra ir aquecendo. Pra mim a festa tem que ser cadenciada, com ápices, big tunes, novos tunes e sempre que possível um som bem diferente para quebrar o clima total, outro dia no meio de uma seleção coloquei um som do Beastie Boys e a galera pirou. Toco bastante coisa, King Tubby, Professor, Lee Perry, Scientist, Shaka, mas gosto mesmo é de tocar coisas novas tipo Mungos Hi Fi, Jahtari, Stand High, ZionTrain/Abassi, Bush Chemist, Kanka, to viciado nessas versões dubstep de hits jamaicanos, entre varias coisas que rolam, quero mais é ver a galera feliz e dançando!  Outra parada que piro é em vocal feminino, quando embala umas doces vozes, não para mais!!                      

Fale um pouco sobre o “Coletivo prato do dia” com propostas diferentes para festas e celebrações?
Ah o Coletivo Prato do Dia é o nosso projeto paralelo, Eu, Julião e o Fino, que foi o cara que me ensinou algumas coisas, talvez se não tivesse sido ele, eu nem teria começado a tocar e produzir festa. Nossa proposta não é fazer balada pra qualquer um, ser mais um coletivo de Dj´s. Gostamos de calor humano, galera dançando e musica boa. Fazemos um resgate de muitas musicas que não tocam em festas, nosso formato é 100% vinil, mesa de efeito, microfone e muita disposição. A seleção varia desde samba rock/soul, funk 70, rocksteady, jovem guarda, tropicália, psicodelias, reggae e irreverências. Big tune na nossa pista é Robertão!!! E festa boa é festa pequena, em casa, com as paredes suando, fumaça e mulher pra todo lado!!rs.


O High Public vêm trabalhando em produções autorais também, como está a evolução dessas produções como acorre o processo de criação?
É algo totalmente novo, pois quem produz tudo é o Jr. Toaster. Ele possui um estúdio na casa dele, onde há instrumentos e uns brinquedos muitos legais que não podem ser revelados aqui!!Rsrs
Eu não manjo nada de produção musical, mas tenho bom gosto para palpitar! O meu papel nisso tudo é divulgar, tentar parcerias e incentivar nós e nossos amigos a produzirem mais!
Nossa meta é com o tempo melhorar a qualidade das produções para poder prensar em vinil.
As poucas produções que temos já tocamos nas festas que tocamos e tem sido bem recebidas, até pelos mais conservadores. A linha de produção percorre pelo digi-step/stepper com pitadas de dubstep.

Deixa uma mensagem pra quem como você caminha por esse caminho do Underground?
Sou mais um filho“abandonado” pelo punk, não que o punk tenha morrido, mas é que eu creio que a grande contribuição já foi dada, a filosofia do FAÇA VOCÊ MESMO! Essa foi a grande associação que eu fiz com a cultura sound system e é o que eu presencio sempre que alguém quer colocar o som na rua. E é muito difícil ser sozinho, querer fazer tudo e estar no “underground” ou “independente” exige muito de você. Eu não sou ninguém, longe disso, acho até que uma das coisas mais legais que fiz foi organizar um festival de rock pra 1000 pessoas na escola quando tinha uns 16 anos.  Não pode desistir, se você ta afim e vê que não vai conseguir sozinho, pede ajuda dos parceiros, sempre vai ter alguém disposto a ajudar.
E não se preocupe com status ou imagem, pois como todos sabem o mundo da voltas, portanto quanto mais amigos e menos inimigos você tiver seus projetos darão mais certo. Humildade e perseverança é o caminho!
Valeu Marcio (que eu nem conheço ao vivo) pelo espaço.
Quem quiser saber mais sobre a cultura sound system em São Paulo eu registro sempre que posso e posto nos canais abaixo:
www.youtube.com/raoniseda (mais de 150 videos de festas)
Links das produças da High Public

Valeu!!



Video Sweet Digimix Raoni Selectah.


Um comentário:

  1. Fico apampa a entrevista.
    Já to no corre pra começar e aprender as sobre produzir um sound.

    Louco mesmo.
    Não deixa o blog parar não.

    Força.

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